Carl Jung e PNL: A congruência no processo de individuação
por Hellen Reis Mourão
Congruência é um
termo utilizado pela Programação Neurolinguística que significa coerência. Ou
seja, é uma similitude entre o que se diz e o que se faz.
Estar congruente
é estar com a atenção totalmente voltada para aquilo que se está fazendo.
De acordo com
Steve Andreas (também conhecido como John O. Stevens e Steve Stevens), autor conhecido
da PNL, de obras como Sapos em Príncipe e Tornar-se presente, no estado de
congruência não existe nenhum "tem que", "deveria",
"escolhas", "desejos" ou "possibilidades" se
introduzindo no que você está fazendo no momento.
Passamos a maior
parte de nosso tempo em um estado não presente. No trabalho estamos pensando no
que vamos fazer para o jantar, ou no encontro com amigos. Nossa mente é, na
maior parte do tempo, inquieta.
No estado de
congruência o pensar, sentir e agir estão em total acordo. Todo o seu ser está
em harmonia.
Seu benefício é
permitir nos concentrar completamente em uma atividade temporária e assim poder
concluir algo, tirar aprendizados e apreciar momentos prazerosos.
Em termos
psicológicos é um estar em sintonia com os processos psíquicos, com as
determinações do Self.
Para entender o
que é a congruência basta observar uma criança. Tudo o que ela expressa é com o
seu ser total. Fome, sono, dor, alegria. Suas emoções se expressam com
intensidade, não há repressão. Ela está plenamente em sua emoção.
Isso remete ao
ditado do Zen-budismo: "Quando tenho fome, como; quando estou cansado,
sento-me; quando estou com sono, durmo"
Entretanto,
quando nos tornamos adultos esse estado é abandonado, uma vez que entramos em
contato com os opostos. A criança vive na totalidade, seu ego ainda não se
formou. Ela não tem noção dos opostos.
A incongruência
advém de conflitos internos de partes que não estão em acordo. Uma parte nossa
talvez queira comer demais, mas outra parte sabe que esse comportamento é
nocivo a longo prazo.
Portanto,
crescer é sair do estado de congruência. Pois se manter em total congruência é não
ser capaz de escolher uma nova alternativa, de aprender algo novo, de examinar
o futuro ou de se reportar ao passado de forma a aprender com experiências
anteriores e de ser capaz de entrar no mundo das experiências de alguém. Resultando
assim, em estagnação, infelicidade e total dependência das circunstâncias, pois
não há como considerar novas possibilidades e nem de avaliar consequências de
seus atos.
Em O Homem e
seus símbolos, a autora junguiana Marie Louise Von-Franz fala a respeito desse
processo de crescimento:
“Ao chegar à
idade escolar a criança começa a fase de estruturação do seu ego e de adaptação
ao mundo exterior. Esta fase em geral traz um bom número de choques e embates
dolorosos.”
“As imperfeições
do mundo, e o mal que existe dentro e fora de nós, tornam-se problemas conscientes;
a criança precisa enfrentar impulsos interiores prementes (e ainda não compreendidos),
além das exigências do mundo exterior.”
Todos esses
choques, traumas, derivados do contato com as imperfeições do mundo externo e
interno tira o indivíduo da congruência.
Todavia, por
mais paradoxal que isso possa parecer, após o que Jung denominou primeira
metade da vida, devemos voltar a congruência, por meio do processo de
individuação. Mas agora não da forma inconsciente da infância, mas com a
participação ativa do ego.
O processo de
individuação consiste na harmonização entre o inconsciente e o consciente. Nele
o ego participa conscientemente. Na infância o ego não tem consciência da
totalidade, portanto, a criança não sabe que é congruente.
Portanto, nosso árduo
desafio, dentro da individuação, é equilibrar esses dois opostos - congruência
e incongruência – e conscientemente escolher o momento de estarmos congruentes,
inteiros em algo.
A congruência,
então, é uma condição fundamental dentro de um processo terapêutico, de forma
que o indivíduo consiga se fazer presente em seu processo de individuação e
tornar presente o que ocorre a sua volta.
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