Sol e Lua astrológicos em uma visão junguiana
Por: Hellen Reis Mourão
Há
muita dificuldade para quem começa a estudar astrologia em definir o
significado do Sol e da Lua em um mapa astral.
Geralmente
se fala no signo solar e signo lunar. Mas qual é realmente o papel de cada um desses
luminares em um mapa astrológico?
O
que eles significam psicologicamente?
O sol
O
Sol, em nosso sistema solar, é fonte primordial de luz e de vida. Todos os
outros planetas recebem calor e energia dele, permitindo (pelo menos na Terra)
que a vida exista. Ele é o coração de nossa Galáxia.
Na
Astrologia está associado ao nível da consciência da psique. Também está
associado ao progresso humano e ao espírito, ou seja, o calor divino. É o
principio ativo, masculino, yang, o logos.
O
Sol astrológico diz respeito ao sentido de permanência, e o de ser aquilo que
se é. Pois ele é o único astro que está fixo e todos os outros giram em torno
dele, agindo como ferramentas de sua vontade.
A
posição do Sol em um mapa astrológico, por signo, casa e aspectos, tem sido um
dos pontos (junto com a Lua e o ascendente) de referência a ser estudado.
Geralmente é o primeiro dado que se leva em conta.
Também
significa nosso sentido moral, ético e religioso. Bem como nosso desejo de
controle, dominação e poder.
Em
uma análise junguiana, se pode associá-lo ao eu, mais conhecido como ego,
centro da consciência.
Assim
como o processo de individuação necessita da colaboração do ego, a assimilação
do signo solar requer um esforço consciente por parte da pessoa. Pois é o ego
(o Sol) quem sofre o processo de individuação. O si-mesmo já é totalidade.
É
um processo doloroso, que sempre começa com uma humilhação do ego, porém, é um
esforço que gera as possibilidades mais ricas e criativas, como direções mais
definidas, força de vontade, auto-suficiência e definição no mundo exterior.
Jung
cita em sua obra, Aion – Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo:
Entendemos por “eu”
aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam.
É esse fator que constitui como que o centro do campo da consciência, e dado
que este campo inclui também a personalidade empírica, o eu é o sujeito de
todos os atos conscientes da pessoa. Esta relação de qualquer conteúdo psíquico
com o eu funciona como critério para saber se este último é consciente, pois
não há conteúdo consciente que antes não se tenha apresentado ao sujeito.
Portanto,
dependendo da posição do Sol em um mapa astrológico, pode-se notar uma inflação
de ego ou sua destruição, se mal aspectado.
A
falta de determinação também é um aspecto negativo de um Sol “fraco”. E o egocentrismo
e arrogância, uma característica de um Sol “forte demais”.
Não
podemos nos esquecer também que o Sol astrológico é um arquétipo.
Em
Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Jung diz.
“Arquétipo nada
mais é do que uma expressão já existente na Antiguidade, sinônimo de “idéia” no
sentido platônico”
Jung
também diz que os arquétipos se parecem como um cristal em sua forma, ou como recipientes
vazios, que contém em si modos de comportamentos idênticos em todos os lugares,
épocas e em todos os seres humanos.
Esse
arquétipo esta presente em várias culturas, pois a maioria possuía deuses
solares.
No
Egito, havia o culto ao deus solar Rá, instituído pelo faraó Akhenaton, na Grécia
havia o deus solar Hélios. Apolo também era considerado filho dourado de Zeus.
Na Índia o deus Indra e o deus Shamash na Babilônia também eram representantes
do sol.
E
todos eram deuses do equilíbrio, da finalidade e vontade dirigida.
O
Sol também é o herói mítico, aquele que empreende a jornada do herói como
símbolo da vontade e finalidade humana. Ou seja, simboliza a jornada humana
rumo à individuação.
Hércules
é um bom exemplo desse herói solar, pois apresentava as características tanto
positivas quanto as mais desagradáveis do Sol. Foi o herói que enfrentou a ira
dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de
simples mortal, porém antes da empreitada das doze tarefas apresentava uma
arrogância selvagem.
O
Sol na astrologia rege o signo de Leão. Signo da vitalidade de criatividade.
O
leão é o rei dos animais, símbolo da masculinidade, da realeza e, da autoridade.
O sol,
na alquimia, era associado ao enxofre, substância inflamável e ao leão também.
Por
essas características apresentadas, o Sol pode ser associado ao arquétipo paterno.
Correspondendo aos valores do masculino e do patriarcado.
Em
um mapa pessoal, portanto, mostra a imago paterna existente no inconsciente
pessoal. Ou seja, como aquela pessoa enxerga e se relaciona com o pai e com qualquer
outra figura de autoridade.
Podemos
também distinguir o pólo masculino da personalidade. No mapa de um homem representa,
como principio do logos, a sua
masculinidade, sua virilidade, a forma como ele exerce a paternidade, bem como
a sua sombra pessoal.
No
horóscopo feminino simboliza um dos aspectos animus. Ou seja, a imagem masculina inconsciente da mulher, que acaba
sendo projetada, primeiramente no pai e posteriormente nos relacionamentos
amorosos.
A lua
Nenhum
astro atraiu tanto o olhar humano como a Lua. Ela é o símbolo do romantismo,
dos enamorados e dos poetas.
Assim
como o Sol, a Lua é um luminar.
Mas,
ao contrário do Sol, não tem luz própria. A Lua recebe a sua luz e a reflete,
portanto ela é um principio receptivo e passivo, em contraste ao Sol que é um
princípio ativo (fonte de luz e energia).
Está
ligada ao movimento das águas (marés, liquido amniótico etc), a vegetação, e
aos animais.
Sendo
um principio receptivo e doador, a Lua pode ser associada ao feminino,
principalmente ao principio materno. Sendo então um símbolo da fecundidade e da
fragilidade.
Como
ela possui várias fases e assume formas variadas, é, também, um símbolo da
inconstância e da mutabilidade.
Na
Astrologia ela esta associada à alma, em contraste com o Sol, que é associado
ao espírito. Simbolizando o mergulho do espírito (principio divino) na
experiência humana.
Na
lua astrológica podemos observar as nossas emoções, nossas experiências
passadas, nossas raízes, ancestralidade, nossa intuição, as fantasias, os
humores, os assuntos domésticos, nossa relação com a família, a casa de origem
e o nosso cotidiano.
Ela
é também a memória.
Ela
guarda as nossas reações espontâneas, nossos instintos mais básicos e
primitivos como nossas necessidades de nutrição, segurança e acalento, em
contraste com o Sol que simboliza o desenvolvimento da consciência e o esforço
para compreender a avaliar a vida.
É
o caminho do menor esforço, pois mostra a manifestação do nosso “eu” profundo e
inconsciente.
É
o automatismo, aquilo que fazemos “sem pensar”. Sendo também o símbolo daquilo
que nos faz sentir confortáveis.
Uma
lua astrológica bem aspectada trará a sensação de paz e estabilidade emocional,
sensação de se sentir pertencente a algo, segurança interna, bons
relacionamentos sociais e íntimos, boa auto-imagem, boa autonutrição e
adaptação ao mundo exterior.
Se
a lua em um mapa astral receber aspectos ruins, esse indivíduo poderá ter
dificuldades com suas emoções, tentando racionalizá-las, a sua infância pode
ter sido muito difícil e, provavelmente, o individuo não vai se sentir querido,
sabotando seus relacionamentos mais íntimos.
Em
uma analise junguiana podemos associá-la ao inconsciente pessoal.
No
inconsciente pessoal está todo o material que poderia ser consciente, mas que
foi reprimido pela educação, as percepções subliminais dos sentidos e tudo o
que foi adquirido na existência, desde a mais tenra idade, de um individuo, mas
que fica no limiar da consciência.
A
mãe é o nosso primeiro vinculo com o mundo externo e ela deveria ser nossa
fonte de alimento, cuidados, satisfação, proteção e conforto (mas nem sempre é
assim).
É
nos primeiros anos que nossos padrões instintivos e sentimentais vão se formar.
Nosso inconsciente está totalmente envolvido no de nossa mãe pessoal e nosso
ego ainda não está formado. Somos uma esponja psiquica.
Portanto,
o modo como fomos criados na infância, se recebemos amor, cuidado, nutrição e
proteção, ou não, e como tudo isso nos afetará pode ser analisado na posição da
Lua por casa, signo e aspectos.
É na
Lua astrológica também que pode se analisar a sombra pessoal.
Enquanto
o Sol é especifico para o mundo externo, para o ego e a consciência, a Lua é
voltada para o mundo interior.
Jung
diz que existem pessoas que possuem um ego com um alto grau de permeabilidade.
Estas pessoas são mais suscetíveis a neuroses. Astrologicamente seriam tipos
fortemente marcados pela Lua.
Elas
possuem um caráter mutável e instável, mas também possuem um alto grau de
criatividade.
A Lua
também, em seu aspecto coletivo, pode ser associada ao arquétipo materno, o
outro pólo do casal parental. Ela é a Grande Mãe.
Nas
civilizações mais primitivas, que remontam ao período paleolítico, o culto a
Lua tinha uma importância simbólica maior do que o Sol. Essa era a época
matriarcal da humanidade.
Naquela
época os deuses conhecidos eram a Grande Deusa e o seu consorte, o Deus
Conífero e se utilizava o calendário lunar para a contagem do tempo.
No
antigo Egito, a Lua tinha uma importância fundamental. Deuses muito cultuados,
como Thot e Isis eram associados à Lua.
Quase
todas as deusas na Grécia possuíam um aspecto lunar. Porém, como a Lua passa
por fases, cada uma dessas deusas representava uma parte de sua simbologia, e
nenhuma delas era um símbolo completo da Lua.
Selene,
uma deusa que quase não aparece na mitologia grega era considerada a fase
cheia, (ela teve cinqüenta filhos) símbolo da jovem mãe, Hécate, a anciã, por
sua vez era a associada à fase minguante e Ártemis, a deusa jovem e sem filhos
era considerada a fase crescente da Lua.
Outras
deusas lunares seriam Ishtar na Babilônia, Cibele uma deusa frigia. Parvati na Índia.
Outras
deusas gregas como Réia, Géia, Hera, Deméter e Perséfone, também encarnavam
princípios lunares.
É
digno de nota, também, que o simbolismo da Lua estava diretamente ligado aos
animais. A divindade lunar Hécate era associada ao cão tricéfalo Cérbero,
Artemis era representada por uma ursa, Cibele por uma leoa.
Em
nossa civilização cristã a deusa lunar mais evidente seria a Virgem Maria. Porém,
devido ao patriarcado, nela o aspecto mãe
terrível está ausente.
O
aspecto mãe terrível, porém, está
presente em todas as culturas.
Esse
aspecto na astrologia pode ser representado pela fase minguante da Lua e também
pela conhecida lua negra. A lua negra é considerada uma lua ausente, que não
pode, ser vista pelos olhos humanos.
Kali,
na Índia, é a manifestação mais grandiosa desse aspecto.
Outras
deusas como essa seriam, Lilith, as Górgonas gregas, Hécate, que aparecia com a
chave do inferno, Perséfone, enquanto deusa consorte do Hades.
Portanto,
o arquétipo materno é ora bom ora mal. Ora é fonte de vida, ora é a própria
destruição.
No
mapa de uma mulher a Lua astrológica nos dos indícios de como pode ser expressa
a sua feminilidade de a maternidade.
No
mapa de um homem ela exprime o arquétipo da anima,
com a esposa, a amada, a irmã, a filha. Ou seja, o lado feminino inconsciente
no homem que é projetado em suas relações com as mulheres.
Conclusões gerais
Sol
e Lua são duas polaridades fundamentais existentes em nossa psique. Eles dão a
matriz do ser, sua personalidade e sua individualidade.
Repetindo,
o Sol e a Lua, em um mapa astrológico representam o arquétipo dos pais, sendo possível em uma analise pessoal verificar
a imago parental presente no individuo. Verificando, se o individuo vive
harmonicamente ou em conflito com esses arquétipos, projetando em seus pais
reais.
Além
de verificar a relação parental de um individuo o horóscopo também pode revelar
se há uma confusão psíquica entre as partes masculina (ego) e feminina
(inconsciente pessoal\sombra) e como essas duas instâncias interagem. Se o ego
colabora ou cria resistências ao inconsciente.
Durante
o desenvolvimento da consciência em um homem, seu lado feminino é deixado de
lado, permanecendo assim em um estado “natural”. O mesmo ocorre com a mulher e
seu lado masculino.
Conhecer
esse lado oposto da consciência (anima\animus) é possível em uma carta
astrológica e se faz essencial no processo de individuação. Pois, quando um
componente da personalidade humana é reprimido ou permanece no inconsciente é
sabido que esse componente irá atuar de forma primitiva, não diferenciada e inadequada
no exterior, nos causando muitos transtornos.
Jung,
em seus estudos de alquimia, observou que é fundamental que o indivíduo busque
a harmonia entre esses dois opostos.
A
integração do lado masculino (o animus no caso da mulher), solar e consciente
com o lado feminino (a anima no caso do homem), lunar e inconsciente é que ele
chamou de coniuntio.
A
“salvação”, então, está no autoconhecimento, pois somente dessa forma podemos
reconhecer e integrar esses elementos inconscientes em nossa alma.
Isso
não é uma tarefa fácil, requer paciência e devoção, pois como o diz o próprio
Jung:
“Se
o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a (o) anima
(animus) é obra-prima."
Bibliografia
GUTTMAN,
A. & JOHNSON, K. Astrologia &
Mitologia - Seus Arquétipos e a Linguagem dos Símbolos, São Paulo: Madras,
2005
JUNG,
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E. Animus e Anima, São Paulo:
Cultrix, 2006
PAUL,
H. A Rainha da Noite – Explorando a lua
astrológica, São Paulo: Ágora, 1990
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H. O Senhor da Luz – Explorando o sol
astrológico, São Paulo: Ágora, 1992
SICUTERI,
R. Astrologia e Mito, 9. ed. São
Paulo: Pensamento, 1998
Vi o blog no Facebook. Estudo e dou aulas de Yoga, e estou voltando a estudar astrologia, com interesse na astrologia védica, então comecei pelos artigos relacionados. E estou gostando do blog.
ResponderExcluir(Também tenho um blog, Estudando Yoga. Se você tiver curiosidade: http://anacabezas.blogspot.com.br/)
Ana obrigada pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado do blog. Vou dar uma olhada no seu blog sim. A yoga é um assunto extremamente interessante. Um abraço. Hellen
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