Heróis e heroínas - modelos arquetipicos
Por: Hellen Reis Mourão
Nos contos de
fadas, encontramos a figura do herói, ou heroína. Uma figura para a qual
torcemos e com a qual nos emocionamos. Suas peripécias e façanhas nos fazem sonhar
e nos arrebatam da realidade em que vivemos.
O herói é
abstrato e nos mostra algo ideal. Geralmente seu nascimento não é habitual. Esse
nascimento é comumente acompanhado de algo miraculoso, de diferente, e algumas
vezes o casal parental não pode conceber.
Outra característica
marcante é que ele ou ela deve passar por certo numero de provas para poder
alcançar seu objetivo.
Mas esse fascínio
que essas figuras nos causam é devido a um caráter irracional do herói. O herói
e a heroína não são seres humanos comuns, são figuras arquetípicas.
De acordo com
Von Franz em O feminino nos contos de fadas, o herói e a heroína dos contos de
fadas representam um ego arquetípico que é edificado pelo Self. Ele é o impulso latente para a produção do ego, por isso as
crianças que estão no estágio de formação do ego se encantam tanto com essas
figuras. Os heróis são um modelo ideal do Complexo do ego. Eles representam um
modelo de comportamento da personalidade consciente. Aquele que age em harmonia
com seus instintos e com a totalidade psíquica.
A psique com
seus arquétipos é uma possibilidade virtual, e necessita do ego para a realização
concreta na realidade, senão são apenas possibilidades.
O arquétipo no inconsciente
coletivo não tem forma e nem pode ser nomeado, somente quando atinge o limiar
da consciência passa a ter uma forma definida e um padrão de comportamento.
Portanto a
totalidade da psique necessita do ego encarnado para se realizar de forma
efetiva.
Entretanto,
nosso ego tem a tendência de se dissociar da totalidade psíquica e o que é pior
oferecer oposição a ela, o que gera inúmeras neuroses.
Levando em
consideração que o ego nasce do inconsciente, porque o inconsciente cria algo
que lhe causa tanto transtorno?
É comum dizermos
que nós seres humanos nos diferenciamos dos animais por termos livre arbítrio. Bem
os animais, seguem seus instintos, não oferecem resistência a eles e não
questionam seus atos.
Nós humanos
questionamos, resistimos e interferimos justamente porque temos a consciência da
finitude do ego. Sabemos que o ego é frágil e impotente diante do inconsciente.
Como dizia Freud, não somos donos de nossa própria casa.
Mas é justamente
nesse conflito gerado pela angustia da duvida e da dissociação que ocorre a consciência.
A totalidade além de querer que estejamos em consonância com ela, ainda quer que
façamos isso com consciência.
Mas ter essa consciência
é uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo. Prometeu roubou o fogo dos deuses
para dar aos homens. Zeus como forma de vingança enviou Pandora a Epimeteu e
esta abre uma caixa que ele guardava a mando de seu irmão, Prometeu. Ao abrir a
caixa de lá saiu todos os males que viriam para tornar a vida do homem em um
caos, entretanto, ela fecha rapidamente esta, restando dentro apenas o mal que
acabaria com a esperança.
Isto mostra que
o fogo que traz consciência traz justamente a consciência do bem e do mal.
Além disso,
atender a um pedido do Self causa um
medo terrível. O ego está acostumado com aquilo que ele conhece, com a zona de
conforto, mesmo que esta não seja tão confortável assim. Ele não deseja
mudança, pois um dos maiores prazeres e talvez a maior paixão do homem é a
preguiça.
Atender algo que
vem do Self traz medo porque tem um caráter numinoso, uma força tremenda que
pode mudar a personalidade consciente e fazer com percamos o controle! E o que
o ego mais gosta é de controle. Por isso é muito penoso às vezes começar um
novo relacionamento, entrar em um novo emprego, ou ter uma nova proposta de
vida.
Estar à mercê do
oceano do inconsciente e não saber para onde ele nos levará é assustador, mas
os Heróis e Heroínas nos contos de fadas nos dão uma pista de que perder o
controle vale a pena e que superar o medo traz a tona nossos mais preciosos
desejos e a possibilidade de realizarmos na realidade prática.
Escolha seu
herói, ou sua heroína e aprenda com ele, observe, sinta e aprenda de que forma
ele segue seu instinto, seu faro e como ele não oferece resistência ao que tem
que ser.
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