Introversão e Extroversão – Limpando conceitos
Por: Hellen Reis Mourão
O médico suíço Carl
Gustav Jung, criou em 1921 com sua obra Tipos Psicológicos os termos
extroversão e introversão.
Hoje esses
termos se tornaram jargões usuais. É comum definirmos pessoas como
extrovertidas e introvertidas, pois todos nós conhecemos pessoas fechadas, ariscas,
difíceis de conhecer (introvertidos) e pessoas abertas, sociais, joviais e que
sempre estão se relacionando (extrovertidos).
Mas será que sabemos do que estamos falando
quando nos referimos a alguém dessa forma?
Por essa razão vamos
analisar o que é extroversão e introversão.
Conforme Carl
Jung (1991), extroversão e introversão mostram tipos gerais de atitudes, e elas
se distinguem pela direção de interesse e movimento da libido, ou seja, da
energia psíquica.
Em outras
palavras, a atitude da consciência será determinada pela direção de interesse
em relação ao objeto.
Por objeto,
entendemos tudo aquilo que não é o sujeito e que não se liga a pessoa e seu
mundo interior, seus desejos e seus medos, incluindo pessoas e estímulos externos.
Os introvertidos
são aqueles que hesitam, recuam e enxergam o contato com o objeto com receio e
como se fosse algo pesado, massacrante. O mundo externo os desgasta e isso faz
com que ajam de forma a atribuir ao objeto um superpoder.
Já os
extrovertidos partem rápido e de forma confiante ao encontro do objeto. Aparentemente
o objeto tem para ele uma importância enorme, mas no fundo o objeto não tem
tanto valor assim e por isso é necessário aumentar a sua importância.
Resumindo,
conforme Silveira (1981) na extroversão a libido fui sem embaraços ao encontro
do objeto. Na introversão a libido recua diante do objeto, pois este parece ter
sempre em si algo de ameaçador que afeta intensamente o indivíduo.
Para
exemplificar as duas atitudes, vejamos as heroínas do conto de fadas moderno da
Disney, o filme Frozen.
As duas irmãs do
filme apresentam atitudes bem marcantes e opostas. Anna é extrovertida, jovial,
se intromete em tudo e vive em busca relacionamentos, principalmente com sua
irmã a introvertida Elza para qual o mundo externo é assustador. Sua personalidade
é mais grave e desconfiada que a de Anna. Seus medos a assolam levando-a a
reclusão. Ela busca se precaver de qualquer dispêndio de energia e acredita que
o mundo externo enxerga seus dons como malignos.
Esse filme também
vem ilustrar bem o que Jung diz sobre o fato das atitudes em relação ao objeto serem
funções de adaptação. Cada uma das irmãs se adaptou ao meio em que vivia forma
particular e individual.
Além disso, o fato
das duas virem da mesma família mostra que as atitudes em relação ao objeto não
são escolhas conscientes, mas inconscientes e instintivas.
Entretanto, a
despeito de ser algo natural e de adaptação inconsciente essas atitudes também
mostram um mecanismo de defesa do ego em relação ao inconsciente. A atitude
oposta assusta e é motivo de desconfiança.
Mas vejamos como
isso ocorre.
O inconsciente
sempre visa à compensação da atitude consciente, e nesse movimento de
compensação, um movimento inconsciente de introversão ocorre naqueles cuja
personalidade consciente é extrovertida, e um movimento inconsciente de extroversão
naqueles cuja personalidade consciente é introvertida (Silveira, 1981).
Nesse caso,
podemos dizer de forma simplificada que o inconsciente do extrovertido é
introvertido e vice-versa. Por essa razão é comum nos apaixonarmos pelo tipo
oposto, mostrando que buscamos a completude pela projeção.
Mas a consciência
tem a tendência a se defender e temer aquilo que é desconhecido, que lhe é
inconsciente. A consciência tende a se manter na zona de conforto. Contudo, toda
atitude radical é prejudicial e pode gerar neurose.
E dessa forma
podemos compreender que o que o introvertido teme é o mundo externo e os
objetos. Ele teme porque supervaloriza. Ele teme porque pode se perder ali, e
sair do controle. E o extrovertido teme seu mundo interno, teme ficar sozinho e
entrar em contato com seu mundo subjetivo, suas emoções e mais ainda teme se
definir com sujeito.
E dentro desse
dilema, é saudável que cada um busque colocar em sua vida um pouco da atitude
oposta. É claro que isso deve ocorrer dentro do limite de cada um, pois uma
mudança de tipo pode ser extremamente desgastante e afetar o bem estar psicológico
e fisiológico do indivíduo. Por ser algo tão delicado, é importante então que
se faça esse processo dentro da psicoterapia, com o auxilio de um profissional,
que irá auxiliar o indivíduo a assimilar aos poucos e dentro do seu limite seu
lado oposto.
Bibliografia:
JUNG, C. G. Tipos Psicológicos 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
SILVEIRA, N. Jung: Vida e Obra. 7 ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1981.
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