Qual o seu conto de fadas preferido na infância?



Por: Hellen Reis Mourão

Todos nós temos um conto (ou uma história) que na infância adorávamos ler e reler. Nosso conto favorito, ou aquele que nos dava muito medo.
No processo analítico, por vezes gosto de perguntar qual foi o conto que marcou a infância do analisando. Esse conto pode auxiliar no processo de cura e na individuação.
O conto de fadas favorito tem um papel relevante na infância, pois é nessa época que a estrutura psíquica está se formando e aponta de forma teleológica para possíveis problemáticas na vida adulta.
Durante a infância mudamos de contos favoritos, no entanto, a problemática fundamental permanece a mesma, e assim a escolha se dá em um conto semelhante.
Com a psicanálise vemos que as formações primitivas infantis são de grande importância, pois formam uma realidade psíquica – a despeito da realidade exterior – nos quais as raízes das neuroses se formam.
Sua importância vital na análise é a de que ele abrange o fundo mágico – mitológico que forma a base do complexo central do paciente.
Os contos de fadas mostram uma camada mais profunda, primitiva e arcaica do inconsciente coletivo, do que os mitos. Por essa razão é mais humano e mais relacionado com a vida que o mito.
Assim na análise, ao acessarmos os contos de fadas trazemos conteúdos muito arcaicos e primitivos pessoais e coletivos, mas é justamente esse que contém, com mais ênfase, elementos compensatórios para a consciência.
Durante a análise esse conto predileto pode ir e voltar várias vezes. Pode-se aprofundar o tema e assim levar a pessoa a uma compreensão gradativa. O tema pode se apresentar sob outros pontos de vista.
Em um primeiro momento o ego se identifica com a figura do herói, o que dá base e sustentação para o processo. Mas com o tempo o complexo de ego se desidentifica com essa figura e começa a observar os outros personagens, como os adversários, como forma de ampliação de consciência, fazendo com que a pessoa compreenda que os personagens do conto são complexos com os quais ele pode dialogar e estabelecer uma relação. Eles existem, como realidade psíquica, dentro da pessoa.
As pessoas podem se identificar com um herói ou heroína via função principal do ego. Os tipos intuitivos costumam se identificar com Alice no País das maravilhas, por exemplo. Pode ocorrer também a identificação por uma função auxiliar.
Sabendo disso, passa – se a conhecer, o que é mais importante, a função inferior da pessoa. É essa que precisa ser trabalhada e conhecida.

Alguns contos de fadas já trazem a função inferior no herói, como o conto As três penas, dos Grimm. Nesse caso uma identificação, pode significar que o ego está tomado pela função inferior.
Para finalizar, existem muitas possibilidades dentro do trabalho com os contos de fadas. Mas ao realizar esse encontro com seu conto predileto, é possível acessar emoções escondidas, desejos inconfessos e que foram reprimidos, medos e traumas.
Lembro-me de amar o conto Soldadinho de Chumbo, do Andersen, na infância, e a cada leitura, acesso uma parte do conto, me emociono novamente e trago lembranças esquecidas.
Assim, com os contos de fadas, podemos trazer de volta a capacidade de nos encantar, emocionar, fantasiar, criar, se espantar. Trazer nossa criança esquecida e assim acessar possibilidades novas, novos projetos, novos horizontes.








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