A diferença entre Mitos e Contos de Fadas
Por: Hellen Reis Mourão
Na
Psicologia Analítica o estudo dos mitos e dos contos de fadas possui uma
importância capital no entendimento dos processos psíquicos que se desenvolvem
no inconsciente coletivo.
Ambos
apresentam uma realidade sobrenatural, fabulosa e mágica. Contudo, existem
diferenças importantes entre eles.
MITOS
Os
mitos mostram como as coisas passaram a existir. Falam do gesto criador.
As
forças da natureza - como a noite, a chuva, o sol – eram caracterizadas por um
deus ou deusa, que teve sua criação descrita na Mitologia. O mesmo ocorre com coisas
mais abstratas como o amor, a guerra, etc.
O
mito trata então de uma ação criadora e de como o homem se relaciona com a
criação, sendo ele mesmo também uma criação divina. No mito sobre a morte, por
exemplo, vemos como nos tornamos mortais.
Eles,
portanto, explicam a existência de algo no mundo, explicando fatos que eram
desconhecidos da ciência.
CONTOS DE FADAS
Os
contos de fadas mostram uma situação em que já há uma condição pré-existente.
Neles há um problema que é coletivo, mas que não modifica - apenas afeta- a
condição humana no mundo.
Os
problemas narrados nos contos de fadas espelham ritos de iniciação e formas de
como resolver os conflitos e os problemas. Tudo já existe e não há gesto
criador.
Nos
contos há um herói ou heroína que vive uma série de conflitos, onde seres
mágicos o auxiliam ou o atrapalham.
No
entanto, os mitos são freqüentemente misturados aos contos ou, então, aquilo
que se reveste do prestígio de mito em uma tribo será apenas um simples conto
na tribo vizinha (Eliade, 1972).
Além
disso, os grandes mitos decaem com a civilização a que pertencem, mas os temas
básicos podem sobreviver como temas de contos de fada, migrando ou então
permanecendo no mesmo país (Von Franz, 2005)
Para
Von Franz (2005), os contos de fada são como o mar, e as sagas e os mitos são
como ondas desse mar; um conto surge como um mito, e depois afunda novamente
para ser um conto de fada.
Isso
ocorre, pois, dentro da Mitologia temos as narrativas heróicas, que espelham os
ritos de passagem e de amadurecimento, assim como os contos de fadas.
As
civilizações antigas possuíam seus ritos iniciatórios que tinham como base
essas narrativas heróicas.
Por
isso, pode-se supor que os mitos possuíam essas duas funções: a de explicar o
surgimento de algo no mundo e mostrar ritos de iniciação.
O
mito de Eros e Psique é uma prova dessa imagem de rito de passagem, assim como
os 12 Trabalhos de Hércules.
O
conto seria então uma espécie de “camuflagem” dos motivos e personagens
míticos, sem deixar de perder suas características e sem ser menos importante.
Conforme
Eliade (1972), se os Deuses não mais intervêm sob seus próprios nomes nos
mitos, seus perfis ainda podem ser discernidos nas figuras dos protetores, dos
adversários e companheiros do herói. Eles estão camuflados, mas continuam a
cumprir sua função.
Outra
informação importante é a diferença entre contos, lendas e fábulas.
FABULAS
As
fábulas também possuem um aspecto mágico. Geralmente os protagonistas são
animais, mas seu um caráter é didático e moralizante. A natureza – na forma de
animais – possui características humanas, simbolizando comportamentos morais
bons ou ruins.
LENDAS
Já
as lendas tratam de uma história também fantástica, mas seu argumento é
retirado da tradição do local. Os relatos das lendas misturam fantasia com
realidade. Relatam de forma maravilhosa um acontecimento que suscitou estranhamento,
surpresa ou até mesmo medo em uma determinada comunidade. Ou seja, um episódio
real gerou um acontecimento imaginário.
Para
concluir o assunto, vemos nesse vasto material maravilhoso e fantasioso dos
mitos, contos de fadas, lendas e fábulas, que a despeito das diferenças entre
eles, eles continuam nos encantando, assombrando, trabalhando nossos medos, nos
trazendo lições morais e éticas e nos auxiliando em nossas jornadas iniciatórias.
Que
nós nunca percamos nossa capacidade de nos encantar e que permaneçamos abertos
ao imaginário e ao mítico, para compreendermos que nossas vidas diárias não são
insignificantes e que existe um mundo além desse material.
Bibliografia:
ELIADE, M. – Mito e realidade. São Paulo, Perspectiva:
1972.
VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5
ed. Paulus. São Paulo: 2005.
Comentários
Postar um comentário