Runas e A jornada iniciática

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Por: Hellen Reis Mourão


As runas são um sistema de letras utilizado para a escrita na língua germânica. Principalmente na Escandinávia, Ilhas Britânicas e Alemanha (regiões habitadas pelos povos germânicos) do século II ao XI.
Os caracteres rúnicos têm sido encontrados gravados em pedras, e em menor número em ossos e peças de madeira, assim como em pergaminhos e placas metálicas.
O alfabeto rúnico germânico primitivo tem 24 runas, e era utilizado nas atuais Alemanha, Dinamarca e Suécia. É conhecido como Futhark antigo (devido às suas primeiras seis letras serem 'F', 'U' 'Th', 'A', 'R', e 'K' - ᚠᚢᚦᚨᚱᚴ).
Além de alfabeto, as runas eram utilizadas como sistema de oráculo e para a magia. Isso faz das runas um complexo sistema iniciático, por onde os mistérios eram ensinados.
A origem das runas é incerta, se perde no tempo. Mas a origem mitológica dos mistérios rúnicos é descrito no poema “Havamal”, como uma revelação iniciática obtida com intenso sofrimento por Odin.
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O Deus se sacrificou para alcançar a sabedoria e esse conhecimento profundo. Ele se auto-imolou durante nove dias e nove noites para o segredo das runas.
Por isso, as runas apresentam também um caráter iniciático. Mais que um oráculo, as runas mostram o caminho da vida humana.
As runas mostram um caminho iniciático e de transformação. As 24 runas formam uma totalidade, que inclui a matéria e o divino.
Assim como o Tarot, as runas tem sua origem e antecipação nos padrões profundos do inconsciente coletivo, com acesso a potenciais de maior percepção à disposição desses padrões (Nicholls, 2007).
Elas fazem a ponte, como imagens simbólicas, entre o inconsciente e o consciente.
Uma viagem pelos símbolos rúnicos é uma viagem ao interior de nós próprios e das camadas do inconsciente coletivo. O acesso ao irracional e ao ancestral em nós.
No texto vou tratar não do aspecto divinatório e oracular, mas desse aspecto iniciático das runas. Utilizando para isso o antigo Furthak, com 24 runas.
O antigo Furthak três Ættir, (usado para criar um código numérico usa do na divisão das runas em subgrupos de oito caracteres) cada um tendo certas características comuns e sendo regi do por um deus e uma deusa.
O primeiro Ættir é regido por Frey e Freyja, deuses da fertilidade. E trata de assuntos de caráter material. Força de vontade, generosidade, conhecimento, ação e energia, são as características desse grupo de runas.
Iniciando com a força de vida da runa Fehu, e finalizando com a transformação máxima da runa Dagaz (que pode simbolizar a morte física).
As 8 primeiras runas mostram o caminho inicial do ego humano em busca de sua força e colocação no mundo material, com o trabalho, relacionamentos e alegria.
É a energia da primeira metade da vida, que disponibiliza libido para a construção do ego e da vida externa. A busca do trabalho, do relacionamento, do conhecimento, da energia, da força e da alegria.
São as qualidades que o ego precisa alcançar para atingir a satisfação e o desenvolvimento iniciais: força vital, libido (Fehu), força de trabalho (Uruz), força para encarar os desafios (Thurisaz), inspiração e conhecimento (Ansuz), ritmo e agilidade (Raidho), o fogo das paixões (Kenaz), habilidade em dar e receber (Gebo) e alegria (Wunjo).
O segundo Ætt é regido pelo deus Heimdall, que era o guardião da ponte Bifrost (que une o reino dos deuses aos humanos). Ou seja, vemos nesse caminho uma transição, uma ponte que leva a um novo estado.
Trata-se da iniciação em si, com os obstáculos a serem superados.
Para isso é necessário que ocorra a morte da ingenuidade do ego e seu apego aos desejos apenas transitórios. É um caminho que irá levar a transcendência, por meio do sofrimento.
Aqui temos o plano emocional/psicológico, o confronto com as sombras, com a paralisação, com a separação, a solidão, e o renascimento e a cura. Aqui os desejos do ego são frustrados para que um centro mais profundo da personalidade se manifeste e se alcance um novo patamar de consciência.
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A ação do destino nas três primeiras runas. A dor da criação da consciência e a morte (Hagalaz), o despertar do fogo interno que purifica a consciência (Naudhiz) e do gelo da consciência (Isa), o crescimento da semente e o renascer pós a morte (Jera), o crescimento da arvore, como símbolo da consciência do processo de individuação (Eihwaz), o desenvolvimento da habilidade de compreender e usar as forças do Ørlög/Destino (Perthro), a conexão com a divindade interna (Algiz) e o nascer do Sol, o renascimento (Sowilo).
O terceiro, regido pelo deus Tyr, deus da guerra e da justiça.
Tyr perdeu sua mão, para se sacrificar pelos outros deuses. Portanto, ele é o deus da ordem e da lei. Aqui temos a necessidade de se sacrificar por algo maior que nós.
Temos a justiça divina, aquilo que foi plantado será colhido agora. Aqui é o desenvolvimento da força espiritual e o encontro da matéria com o espírito.
Ocorre aqui a união dos dois primeiros. A matéria purificada, agora pode atuar na vida humana com sabedoria. Aqui é o encontro com a maturidade e a preparação para a morte. Uma nova força retorna, mas não mais infantilizada e impulsiva. O ser sai de sua individualidade e se volta agora, transformado, para atuação no coletivo. Aqui o ego abrange o outro e acolhe sua ancestralidade. E assim acontece a transformação completa da personalidade.

Temos o encontro do principio paterno celeste (Tiwaz), com o materno terreno, a Grande Mãe (Berkano), o auxilio espiritual (Ehwaz), o outro como espelho e a autoestima (Mannaz), o poder da intuição feminina como Anima (Laguz), a fertilidade do masculino como Animus (Ingwaz), a herança ancestral (Othala) e a completa mudança (Dagaz).


Referências bibliográficas:
FAUR, M. Mistérios nórdicos: deuses, runas, magia, rituais. São Paulo: Pensamento, 2007.
NICHOLS, S. Jung e o Tarot – Uma jornada arquetípica. São Paulo: Cultrix, 2007.



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