O que são arquétipos?
Por: Hellen Reis Mourão
Antes de iniciar a definição do conceito
de arquétipo é importante entender como Jung dividiu a psique.
Para Jung o inconsciente possui duas
camadas. À camada mais superficial do inconsciente ele denominou de
inconsciente pessoal cujos conteúdos foram
adquiridos individualmente e que formam as partes constitutivas da personalidade
individual, sendo passiveis de se tornarem conscientes. À segunda camada, mais profunda, Jung denominou de
inconsciente coletivo. Nessa camada os conteúdos são de ordem impessoal e
coletiva, e representam uma base
da psique universalmente presente em todas as culturas e povos e sempre
idêntica a si mesma.
Em O Eu e o
Inconsciente Jung diz:
“Já
propus antes a hipótese de que o inconsciente, em seus níveis
mais profundos, possui conteúdos coletivos em estado relativamente ativo; por
isso o designei inconsciente coletivo.”
O inconsciente coletivo é formado pelos instintos e
pelos arquétipos.
Os arquétipos são componentes de ordem
impessoal e coletiva que se apresentam sob a forma de categorias herdadas. São sedimentos de experiências constantemente vividas pela
humanidade em um processo repetitivo.
Em Psicologia do Inconsciente, essa
idéia da repetição é encontrada.
“O arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir
constantemente as mesmas idéias míticas; se não as mesmas, pelo menos
parecidas. Parece, portanto, que aquilo que se impregna no inconsciente é
exclusivamente a idéia da fantasia subjetiva provocada pelo processo físico.
Logo, é possível supor que os arquétipos sejam as impressões gravadas pela
repetição e reações subjetivas.”
Portanto, são
qualidades e traços herdados e compartilhados por toda a humanidade.
Ao contrário do inconsciente pessoal, o inconsciente
coletivo não se desenvolve individualmente, ele é herdado.
Os
arquétipos, enquanto imagens primordiais, são frequentemente encontrados na
mitologia, nos contos de fadas e lendas populares de diversas culturas. Neles
encontramos situações similares como “a jornada do herói”, “a luta contra o
monstro (dragão) para salvar a donzela“, etc. Bem com encontramos nos diversos
panteões mitológicos imagens como o “o deus guerreiro”, “a deusa do amor”, “a
grande mãe”, etc.
Para o
mesmo arquétipo pode haver uma variedade de símbolos associadas a ele. Um dos
arquétipos mais comentados e analisados é o arquétipo da Mãe, que não corresponde
somente à mãe real de cada indivíduo. E em relação a ele há uma infinidade de
símbolos, como a bruxa, a nutridora, a virgem, a natureza, etc.
Esses
símbolos são capazes de ativar os complexos impulsionando a psique para a evolução,
como um principio ordenador e mobilizador, mas também podem destruir e
paralisar gerando neuroses, caso o indivíduo não aceite os complexos.
Sobre
isso Jung (2012) diz:
“O
fato de ter complexos, ao invés não implica uma neurose, pois normalmente são
os complexos que deflagram o acontecimento psíquico, e seu estado dolorido não
é sinal de distúrbios patológicos. Sofrer não é uma doença, mas o pólo oposto
normal da felicidade. Um complexo só se torna patológico quando achamos que não
o temos.”
É conveniente esclarecer, devido à grande confusão
existente a respeito desse conceito, que os arquétipos são possibilidades de
representação das imagens.
Em Arquétipos
e o inconsciente coletivo, Jung diz:
“Há
tantos arquétipos quantas situações típicas na vida. Intermináveis repetições
imprimiram essas experiências na constituição psíquica, não sob a forma de
imagens preenchidas de um conteúdo, mas precipuamente apenas formas sem
conteúdo, representando a mera possibilidade de um determinado tipo de
percepção e ação, Quando algo ocorre na vida que corresponde a um arquétipo,
este é ativado e surge uma compulsão que se impõe a modo de uma reação
instintiva contra toda a razão e vontade, ou produz um conflito de dimensões
eventualmente patológicas, isto é, uma neurose.”
Os arquétipos, portanto, são formas preexistentes
que só podem ser nomeados e representados quando acessam a consciência, por
meio de imagens. A manifestação do arquétipo é pessoal, entretanto a base
instintiva é a mesma para todos os seres humanos.
Assim como os antigos deuses necessitavam dos
humanos para adorá-los, nomeá-los e para simplesmente existir em um mundo em
três dimensões, os arquétipos universais necessitam da experiência humana para
tomar forma em cada existência de modo único.
Bibliografia
JUNG,
C. G. Aion – Estudo sobre o simbolismo do
si-mesmo. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
______. Arquétipos
e o inconsciente coletivo.
6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
______ A Natureza da Psique. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
______ O eu e o Inconsciente, 21. ed. Petrópolis: Vozes,
2008.
______ Psicologia do inconsciente, 18. ed. Petrópolis: Vozes,
2008.
______ A prática da psicoterapia, 15. ed. Petrópolis: Vozes,
2012.
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