A Intuição
Por: Hellen Reis Mourão
A intuição é uma função
psicológica, definida por Carl Gustav Jung em sua obra Tipos Psicológicos.
Resumidamente, as
funções psicológicas, são: sensação, pensamento, sentimento e intuição.
E elas são orientadoras
da consciência em relação ao mundo, são formas de manifestação da energia
psíquica. São como bussolas que nos norteiam em nossa caminhada.
A sensação nos diz que
algo existe, o pensamento nos diz o que é esse algo, o sentimento dá valor e um
propósito e a intuição nos mostra as possibilidades do que fazer com esse algo.
Todos nós possuímos as
quatro funções e elas são extremamente necessárias, sendo de absoluta
importância o desenvolvimento por igual de cada uma delas para o nosso processo
de individuação. Entretanto temos uma que nos norteia de forma mais intensa,
sendo a nossa função preferencial, se tornando mais diferenciada e desenvolvida
que as outras. É nela que estão os nossos talentos, mas também a nossa zona de
conforto.
Mas voltando à
definição da função intuição.
Como dito anteriormente,
a intuição nos dá possibilidades, ideias. Ela nos orienta para o futuro. Ela é o
“faro”, o sexto sentido, a percepção extrassensorial, o palpite, o
pressentimento.
É uma função de
percepção, portanto é irracional.
Como sua percepção se
baseia em processos inconscientes e subliminares se torna a função mais próxima
dos arquétipos.
Devido a esse fato, o
intuitivo, principalmente o introvertido, pode prever novas possibilidades
advindas do inconsciente coletivo, podendo prever até o que poderá vir
acontecer.
Indo além dos fatos da
realidade e enxergando as possibilidades das situações e coisas, a intuição se torna a
grande "solucionadora" de problemas.
Em Tipos Psicológicos,
Jung define intuição como:
“A intuição fornece, em primeiro lugar, apenas imagens e ou impressões de relações e condições que não podem ser conseguidas através de outras funções, ou só podem após muitos rodeios.”
O tipo intuitivo age de
forma generalista, ele não consegue enxergar os detalhes. Detalhes são uma
especificidade da função oposta, a sensação. E é nessa generalização que ele
encontra a criatividade, pois ele vê o todo.
O intuitivo é um
questionador, um incitador de revoluções, uma vez que nunca se encontra em
situações aceitas por todos.
É um iniciador, um
estimulador, pois está sempre em busca de coisas novas. Encontramos esse tipo
nos grandes oradores, homens de negócio, empresários, políticos, vendedores e no
pintor desconhecido que será reconhecido como gênio daqui a 30 anos. Portanto, no
gênio incompreendido. São também os grandes místicos, profetas e os artistas.
Se ele se voltar para
as pessoas será capaz de enxergar o potencial delas. Sendo aquele que é capaz
de liderar, dar coragem e entusiasmo em prol de uma causa.
As perguntas típicas da
função intuição: “O que poderia acontecer?” e “O que é possível?”
Entretanto, nem tudo
são flores para o tipo intuitivo.
Quanto mais unilateral
for a atitude do intuitivo, mais ele detestará situações estáveis, vivendo em
um escapismo da realidade constante onde o mundo concreto parece não existir.
Vive em um estado de
constante pressa, pois a realidade (domínio da função sensação) é muito dura
para ele. Negligenciando até as necessidades físicas mais básicas.
O intuitivo vive de ideal em ideal. Quando ele se cansa de uma idéia ele vai perseguir sofregamente outra idéia, como se aquilo fosse a verdade única, sem antes aplicá-la na prática, ou testá-la na realidade. Quando todos aceitam a sua idéia, ou quando ela cai em uma rotina ele simplesmente a abandona, deixando quem o seguia na mão. Sendo assim, nunca consegue terminar um projeto, (isso quando consegue implementar na realidade suas ideias!) indo sempre em busca de novas ideias tanto no mundo externo (extrovertido), quanto no mundo interno (introvertido).
O intuitivo vive de ideal em ideal. Quando ele se cansa de uma idéia ele vai perseguir sofregamente outra idéia, como se aquilo fosse a verdade única, sem antes aplicá-la na prática, ou testá-la na realidade. Quando todos aceitam a sua idéia, ou quando ela cai em uma rotina ele simplesmente a abandona, deixando quem o seguia na mão. Sendo assim, nunca consegue terminar um projeto, (isso quando consegue implementar na realidade suas ideias!) indo sempre em busca de novas ideias tanto no mundo externo (extrovertido), quanto no mundo interno (introvertido).
Essa falta de
persistência lhe custa caro, pois o outro sempre acaba colhendo os frutos de
seu trabalho e fica com os louros da vitória.
Sobre essa
problemática, Jung em Tipos Psicológicos, diz:
“Um fato só vale enquanto abrir
novas possibilidades que o ultrapassam e dele libertam o indivíduo.
Possibilidades emergentes são motivos cogentes dos quais a intuição não pode
fugir e aos quais sacrifica todo o resto.”
Constantemente esquecem compromissos ou chegam
atrasados.
O extrovertido, por
exemplo, tem pouca consideração pelo bem estar dos outros e não costuma
respeitar os costumes.
E o introvertido vive
cada vez mais distante da realidade cotidiana. Além disso, ele não tem a menor
consciência de sua existência corporal nem de sua influência sobre os outros,
pois despreza o objeto.
Salientando novamente,
todos nós possuímos as quatro funções, entretanto uma delas será mais
desenvolvida e diferenciada em relação às outras três. Para que haja esse
desenvolvimento da função principal as outras serão reprimidas, caindo sob o
domínio do inconsciente.
Jung,
em Tipos Psicológicos apresenta isso claramente:
“(...) das quatro funções básicas, apenas uma é totalmente consciente e diferenciada o suficiente para ser manipulada livremente e à vontade, enquanto as outras três são total ou parcialmente inconscientes.”
Mas uma delas será
completamente reprimida, sendo justamente aquela que faz oposição a função
principal. Pois a consciência a considera um estorvo. A essa função Jung
denominou função inferior.
A função inferior
apresenta um caráter primitivo, não desenvolvido, que provoca desconforto na
vida do indivíduo. É o calcanhar de Aquiles de cada um.
Ela, por ser
inconsciente, se manifesta contra a vontade do ego, sendo espontânea,
desajeitada, impulsiva, caprichosa, primitiva, arcaica e selvagem.
Além disso, ela tem
como função complementar a atitude consciente do indivíduo. Um introvertido,
portanto, terá um inconsciente extrovertido, e vice versa.
No caso do intuitivo,
sua função inferior é a sensação. A função sensação é responsável pelos cinco
sentidos e pela nossa noção de realidade, sendo a função que lida com os fatos
concretos.
Não que o intuitivo não
tenha noção da realidade, nem de suas sensações, mas ele prefere ignorá-las,
negando-lhe a sua validade. Age assim como forma de mecanismo de defesa, pois,
ela o incomoda e o estorva. Os estímulos dos sentidos o levam a olhar para as
coisas físicas e ele quer justamente olhar além das coisas físicas.
Então, quando tomado
pela função inferior, desenvolverá um deslumbramento com os sons, as cores, cheiros,
esquecendo das possibilidades de cada coisa. E pior ainda, ele pensará que está
analisando as possibilidades, pois uma característica da função inferior é se
apresentar “disfarçada” pela função superior.
Como o intuitivo vive com pressa – mesmo o intuitivo, que pode não demonstrar exteriormente, mas seu mundo interno borbulha de idéias - vivendo em um estado onde o presente é enervante ele irá sofrer as conseqüências de sua unilateralidade em seu próprio corpo. A doença vai obrigá-lo a “desacelerar” e a olhar para os sentidos, para o seu corpo e assim fazer com que ele tome conta de algo real. No caso do introvertido, cuja sensação inferior é extrovertida, o objeto poderá provocar sonhos e fantasias fazendo com que ele se ligue impulsivamente com o objeto de forma obsessiva. Por vezes é tomado pela instintividade e falta de moderação, não percebendo sua dependência dos sentidos.
Como o intuitivo vive com pressa – mesmo o intuitivo, que pode não demonstrar exteriormente, mas seu mundo interno borbulha de idéias - vivendo em um estado onde o presente é enervante ele irá sofrer as conseqüências de sua unilateralidade em seu próprio corpo. A doença vai obrigá-lo a “desacelerar” e a olhar para os sentidos, para o seu corpo e assim fazer com que ele tome conta de algo real. No caso do introvertido, cuja sensação inferior é extrovertida, o objeto poderá provocar sonhos e fantasias fazendo com que ele se ligue impulsivamente com o objeto de forma obsessiva. Por vezes é tomado pela instintividade e falta de moderação, não percebendo sua dependência dos sentidos.
Já o extrovertido, com
uma sensação inferior introvertida, pode desenvolver hipocondria, fobias e
sensações corporais absurdas, além de uma preocupação excessiva com seu próprio
físico.
Mas uma saída, proposta
por Jung para que o intuitivo consiga sair de seu escapismo está no
desenvolvimento das funções auxiliares.
Em Tipos Psicológicos,
Jung diz:
“Mostra a experiência que a função secundária é sempre de natureza diversa, mas não oposta à função principal; assim, por exemplo, o pensamento, como função principal, pode facilmente unir-se à intuição como função secundária, bem como à sensação, mas nunca como ficou dito, ao sentimento.”
Desenvolver o
julgamento o ajudará a pensar, avaliar, sentir, encontrando uma forma de
refletir sobre seus atos, melhorando seus relacionamentos e tendo mais
qualidade de vida.
Assim, o caráter
avaliativo das funções judicativas irão auxiliar em muito o irreflexão da
intuição.
Desenvolver a função
sensação diretamente do inconsciente só vai causar dor e sofrimento para o indivíduo
e não vai leva-lo a lugar algum. Por meio do desenvolvimento das funções
auxiliares o ego pode ser fortalecido de forma a suportar o que vem de sua
função inferior, lhe dando certa proteção.
Portanto, conhecer a
problemática dos tipos não é simplesmente um capricho ou algo que sirva para satisfazer nossa
curiosidade. A oposição entre consciente e
inconsciente gera diversos conflitos internos e externos causando doenças
psíquicas e muito sofrimento.
Esse conhecimento,
então, auxilia o indivíduo a complementar a sua consciência e mudar a sua
atitude aumentando seu conhecimento sobre si mesmo e ampliando a sua visão.
No caso do intuitivo,
suas ideias e possibilidades terão a chance de se tornarem reais sem a dor do
fracasso.
Bibliografia
JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. 7. ed.
Petrópolis: Vozes, 1991.
SILVEIRA, N. Jung: Vida e Obra. 20. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2006.
Comentários
Postar um comentário