Oxumaré - A dinâmica psíquica
Por: Hellen Reis Mourão
Oxumaré é um Orixá complexo, suas
funções são múltiplas.
Na Mitologia iorubá é considerado o Orixá
dos movimentos e de todos os ciclos.
Senhor da mobilidade e da atividade, é
representado pela cobra e pelo arco-íris, por isso é considerado o senhor de
tudo o que é alongado, como, por exemplo, o cordão umbilical.
Em sua mitologia é filho mais novo e
preferido de Nanã. É irmão de Omulu, Ewa e Ossain.
Representado por uma serpente que morde
a própria cauda, se mostra como símbolo da continuidade e permanência.
Ao mesmo tempo em que representa a
movimentação e mobilidade da Terra, com seus movimentos de rotação e
translação, segundo Verger, Oxumaré enrola-se em volta da terra para impedi-la
de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim do mundo. Portanto
ele controla os movimentos, para que não sejam nem rápidos nem lentos demais.
Seus domínios estão nos movimentos
regulares, que não podem parar, como a alternância entre chuva e sol, dia e
noite, frio e calor, positivo e negativo.
O arco-íris, a grande serpente
colorida, representa a comunicação entre o céu e a terra, um elo entre os dois.
A ligação entre o velho e o novo, entre os homens e seus antepassados é
assegurada pelo cordão umbilical.
Ainda sobre Oxumaré, Verger em Orixás
diz:
“Oxumaré é, ao mesmo
tempo, macho e fêmea. Esta dupla natureza aparece nas cores vermelha e azul que
cercam o arco-íris. Ele representa também a riqueza, um dos benefícios mais
apreciados no mundo dos iorubás.”
É o Orixá da tese e da antítese.
Oxumaré é então um Orixá ambíguo. Macho
e fêmea, belo (arco-íris) e perigoso (serpente), céu e terra, exprime, portanto
a dualidade, a união dos opostos.
A vida se expressa por meio do conflito
entre os opostos, estar vivo é estar em meio aos opostos, dia e noite,
sofrimento e prazer, calor e frio.
Podemos afirmar, então, que Oxumaré
exprime a vida humana, encarnada.
Arquétipo, onde está sintetizada a
duplicidade humana, seu corpo mortal e seu espírito imortal.
A imagem da serpente que engole a
própria cauda, enrolada ao redor do planeta pode ser comparada ao trunfo XXI do
tarô, O Mundo.
Neste trunfo, está representada a Ouroboros,
símbolo da eternidade, dos ciclos da vida, a espiral da evolução, a dança da
morte e ressurreição.
A Ouroboros está ao redor de uma figura
metade macho, metade fêmea, simbolizando os opostos, o negativo e o positivo. E
também aparece rodeada por quatro animais, que simbolizam os quatro elementos.
Esse trunfo, assim como Oxumaré, nos
remete a um universo ordenado, em harmonia com os ciclos da vida e em consonância
com o Self. É então, a totalidade, a harmonia, o equilíbrio, mas também o
início de uma nova jornada, não mais centrada no ego.
Outro paralelo está na mitologia
judaico-cristã, onde a serpente simboliza o mal, a queda do homem, Satanás. E
no arco-íris, símbolo da aliança de Javé com o seu povo, após o dilúvio.
Oxumaré é uma imagem ideal. Como seres
humanos, essa totalidade raramente é encontrada. Mas como arquétipo Oxumaré
mostra a necessidade de movimento e de transformação. Ele é o movimento
psíquico, a dinâmica entre o inconsciente e o consciente, a relação entre ego e
Self.
Sem esse arquétipo, a vida psíquica se
torna estagnada e o processo de individuação paralisado.
Esse arquétipo, representado por
Oxumaré, quando ativado na dinâmica psíquica do individuo, leva a descoberta
dos opostos dentro de si. Negá-los é negar a vida. A dualidade é condição
humana e aceita-la é o princípio da individuação.
E assim é a caminhada humana, sempre mudando,
crescendo, sempre em movimento. Em estado de renovação, sem nunca alcançar o
centro, o Self, mas sempre em direção à totalidade.
ZACHARIAS,
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1998.
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