Considerações sobre a neurose
Estava lendo
Mitos de Criação da Marie Louise Von Franz quando me deparo com um trecho que
chamou a atenção. Algo já comentado por Carl Jung sobre a neurose e o processo
psicoterapêutico.
Von Franz
observa que nos mitos, quando um mundo novo vai ser criado, é sempre necessário
um sacrifício. Alguém morre, ou um deus, ou gigante, ou uma criatura humanóide.
A vitima, nesse
caso, sempre está ligada a uma condição anterior que deve morrer para que um
novo mundo, ou uma nova condição consciente, se apresente.
Von Franz ainda
salienta que cada passo adiante, visando à construção de mais consciência
destrói o equilíbrio vivo em vigor até agora.
E é ai que entra
uma questão muito delicada: o quão difícil e doloroso é para o ego se separar
de uma situação neurótica.
Pois de certa
forma a neurose gera uma espécie de equilíbrio, uma zona de conforto. O ego se
apega a essa situação, pois em sua fantasia, ele enxerga o seu fim.
E o ego tem medo
do novo, tem medo de perder o controle e não ser mais o centro.
Por essa razão há
sempre certa resistência em se libertar da neurose. Ela ao mesmo tempo em que
traz a cura traz um equilíbrio por compensação. Mas esse equilíbrio precisa ser
rompido!
Esse é um
momento delicado e crucial na psicoterapia. E até que ponto o psicoterapeuta
tem a sensibilidade de perceber isso, que a pessoa não se “desgruda” de sua
neurose?
É muito comum o
analista cair na tentação de encaixar todos os sintomas em termos: “Resistência”,
“Complexo de Édipo”, “Dominação pela anima”.
Nomear a neurose
pode ser um grande perigo, porque ela ganha um significado tremendo. Não que o
analista não deva conhecer a teoria, mas é como Jung mesmo disse devemos
conhecer todas as teorias, dominar todas as técnicas, mas ao tocar uma alma
humana, seja apenas outra alma humana.
Pois a neurose
pode ser apenas uma fantasia da neurose, um medo de se desconectar com o
passado e com o que é conhecido. Devemos perder o medo de seguir em frente e
deixar o fluxo da vida seguir.
Muitos analistas
não conseguem ajudar seus clientes nessa tarefa de desapego, pois eles mesmos
estão apegados as suas neuroses.
Mas é importante
nos atentar que nenhuma vida nova pode surgir sem que ocorra um declínio e o
sacrifício da que havia anteriormente.
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