João Felizardo




João Felizardo é um conto dos irmãos Grimm que causa uma estranheza tremenda no leitor.
Eis o conto:
João trabalhou duro durante sete anos, mas desejava voltar a ver a sua pobre mãe. Foi pedir as contas ao patrão que havia se afeiçoado ao rapaz pelo seu jeito alegre e descontraído e lhe pagou com uma pepita de ouro do tamanho de sua cabeça, recomendando ao rapaz que tivesse juízo, pois aquela pepita lhe traria muitas alegrias na vida. 

João partiu em viagem, a pé, mas logo ficou cansado por carregar aquela pedra tão pesada. Ele viu um cavaleiro montado em seu cavalo e vendo a facilidade com que marchava no cavalo, ele ofereceu ao cavaleiro para trocar o seu ouro pelo cavalo. O cavaleiro mais que depressa aceitou e João ficou muito feliz em se livrar daquele peso, o homem deu-lhe o cavalo e João seguiu adiante. João acelerou o cavalo e foi jogado para fora do animal não conseguindo mais montar no animal levava-o, puxando pelas rédeas, embaixo do sol forte, foi então que ele encontrou um pastor que tinha uma vaca magricela e conversando com João o convenceu a trocar seu cavalo por sua vaca, argumentando que uma vaca poderia fornecer leite, queijo e manteiga, além de marchar mais vagarosamente. 


João aceitou a oferta e levou a vaca, deixando o cavalo com o pastor que ficara muito contente com a troca, continuando a sua jornada,sentiu sede e resolveu ordenhar a vaca, mas descobriu que a vaca estava seca e não produzia mais leite, como ele havia pensado; descontente com a vaca continuou sua jornada. João encontrou um açougueiro que tinha um porco e interessado pela vaca que o rapaz carregava, ofereceu o porco em troca dizendo as vantagens do animal que além de tudo poderia fornecer linguiças e carne saborosa. 


Os olhos do rapaz brilharam de satisfação lembrando da comida deliciosa que sua mãe preparava e de como ficaria contente quando visse aquele belo porquinho, resolveu então aceitar a troca com o açougueiro. João começou a correr novamente, na esperança de ter encontrado um companheiro de viagem ideal. Mais adiante, porém João encontrou um camponês que lhe informou que um porco como aquele que carregava, havia sido roubado do escudeiro e ele corria o risco de ser preso por estar com o porco. 


Sem saber o que fazer, o camponês ofereceu um ganso que tinha em troca do porco, João levou o ganso do camponês em troca de seu porco, feliz por ter se livrado da prisão, imaginando que bom assado aquele ganso poderia dar. Seguindo seu caminho, na próxima aldeia João viu um amolador de facas e tesouras e contou a sua história para ele. O amolador lhe ofereceu uma pedra sobressalente e já desgastada de amolar em troca de seu ganso argumentando que a pedra iria lhe proporcionar uma fonte de renda, pois todo mundo tem sempre uma faca para afiar. João trocou o ganso pelo rebolo e continuou o seu caminho, mas foi ficando cansado pelo peso da pedra e cada vez mais faminto, pois não tinha dinheiro para comprar comida. Quando João parou para beber água, nas margens de um rio, a pedra de amolar caiu em águas profundas se perdeu. João ficou feliz por se livrar da pesada pedra e de todos os problemas. Ele voltou para a casa de sua mãe, lhe contando o quanto tinha tido sorte. 

João é um conto que nos faz refletir sobre valores e sobre consumismo. 
Até onde nosso desejo por conquistas pode nos levar? 
João não se abala de ter perdido seu rico dinheiro e o tempo todo se sente com sorte.
Em nosso processo de individuação a perda nos faz refletir naquilo que realmente nos importa. A perda nos leva a conquista de algo.
A estranheza do conto e o mal estar que ele provoca ao ler abala nossa crença no capitalismo.
Outro aspecto que chama a atenção é que João sempre perde o interesse naquilo que ganha e troca por algo que julga ser melhor.
Quantas vezes não pensamos que "a grama do vizinho é mais verde", que aquilo que temos é pouco. Desejamos tanto algo que quando conseguimos perdemos o interesse. 
Queremos um emprego e ao perceber que não é perfeito ficamos decepcionados e decidimos trocar.
João ao final quando se livra das pedras do desejo egóico se sente livre e leve e o apenas ser lhe deixa satisfeito.
Ao abrir mão do ter podemos ser livres e conseguir o que realmente procuramos. 






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