O aspecto espiritual do Animus



Por: Hellen Reis Mourão


    Emma Jung compara esse estágio do Animus ao Deus Odin, senhor dos exércitos de espíritos, descobridor das runas, é um espírito deus-céu. Ele é o senhor do desejo, ele provoca e cria através do desejo. Essa imagem mitológica, de deus do vento e do espírito, é o aspecto espiritual e divino do Animus. E ele se manifesta na mulher em sonhos e fantasias. 

    O poder da fantasia não pode ser negado, ele movimenta o desejo, que pode levar a materialização. O perigo é estar presa na imaginação e na ideia de que seu desejo pode mudar a realidade. Por exemplo: quando se quer mudar alguém, através do desejo, ou como fulano ou beltrano deve se comportar, sem o confronto com a realidade.

    O perigo está em aceitar a pura imaginação como verdadeira e adotar a realidade correspondente. Como diz Emma Jung: O animus sabe muito bem como desenvolver uma imagem e torná-Ia crível, de forma que se mostra aquilo que se gostaria de ser, como por exemplo "a amante ideal", "a comovente criança indefesa", "a servidora abnegada", "a extraordinariamente original", "a que na verdade nasceu para algo melhor" etc. etc. 

    Naturalmente, essa atividade lhe confere poder sobre a pessoa até o ponto em que se seja forçado ou se decida espontaneamente sacrificar a imagem representada e ver-se como realmente se é. Esse é um aspecto difícil de diferenciar. Afinal de contas como diferenciar um pensamento inspirado, de uma imaginação, fantasia, desejo ou receio? O caminho é confronto com a realidade! 

    Nesse caso, o confronto com a sombra pode ser de grande valia. Outra manifestação desse espiritual é através da palavra (O Logos). Não somente no imaginado, pensado, mas no falado, recai o poder mágico do Animus. Que pode ser projetado no homem. 

    Homens com dom da palavra (o boa lábia), podem gerar, para o bem ou para o mal, uma extrema atração. Por isso, sempre digo, a zona erógena da mulher é o ouvido. 

    Em termos arquetípicos temos alguns exemplos: Deus criou o mundo com a palavra. Mantras, orações, atestam esse poder mágico do espírito. O lado sombrio desse aspecto é a atividade destrutiva dessa palavra, que comenta de forma crítica e repressora comportamentos, de emoções. Sufocando iniciativas e provocando sentimento de inferioridade. Ou, comentários exagerados, que levam da inferioridade a uma superioridade exacerbada. Com o Animus não tem meio termo. 

    Esse aspecto também estabelece leis, mandamentos, proibições, que são convenientemente expressos pela maioria. A mulher precisa diferenciar seu pensamento, a diferenciação e a crítica, para acessar o espírito criativo de fato dessa mulher. 

    Também é necessária uma diferenciação. A área criativa da mulher ligada às relações, que são frutos do sentimento e da intuição feminina, não devem ser contaminadas pelo Animus. Essa é a ação de Eros. Pois ele vai criar fantasias e imaginações sobre o outro, tirando a espontaneidade das relações. É necessário um campo de atuação criativo para esse espírito! 

    Mas vou novamente citar Emma Jung, que mostra como o processo de diferenciação do Animus, se difere da Anima. Para desenvolver a Anima, o home deve descer do pedestal e servi-la. Vencer a resistência do orgulho masculino. Para a mulher é demasiado óbvio obedecer à autoridade do animus, ou também do homem, com subserviência de escrava. A concepção de que o masculino tem em si mais valor que o feminino está em seu sangue, por mais que ela conscientemente pense de outra maneira, e contribui muito para acentuar o poder do animus. O que temos que superar em relação ao animus não é o orgulho, mas sim a falta de autoconfiança e a resistência da indolência, que nos torna insensíveis. É ter coragem e força de vontade para essa insurreição. O trabalho é com o sentimento de inferioridade em relação ao feminino, e o acesso a essa dor que gera submissão e raiva. 

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