A Roda da fortuna e o processo de individuação
O
trunfo número X do Tarot, conhecido como a Roda da Fortuna, na versão mais
antiga do Tarot de Marselha, mostra uma roda de seis aros (ou seja, em forma de
mandala), sendo girada por duas figuras não humanas e com outra figura, que se
assemelha a uma esfinge, sentada em seu topo, aparentemente imóvel.
A
Roda se move incessantemente, com uma das figuras voltada para cima e a outra
para baixo, simbolizando pares e opostos.
Portanto
é uma carta que simboliza os ciclos sucessivos da vida humana, como o movimento
de ascensão e de queda. Bem como os pares de opostos presentes em nossa
existência humana como o bem e o mal, alegria e tristeza, vida e morte, o
negativo e o positivo.
É
uma carta de movimento, de mudança brusca de vida. Mudança essa desconhecida
pelo sujeito
Portanto
esse é o trunfo que simboliza o destino humano.
No
Tarot Mitológico a Roda da Fortuna é representada pelas três Moiras, que são as
Deusas do Destino na antiga Grécia. Sendo a personificação do destino individual,
de cada ser humano neste mundo.
Conforme
Brandão vol1 Petropolis 1986, ed Vozes
Originariamente, cada ser humano
tinha a sua moira, a saber, "sua parte, seu quinhão", de vida, de
felicidade, de desgraça.
Impessoal e inflexível, a Moira é a
projeção de uma lei que nem mesmo os deuses podem transgredir, sem colocar em
perigo a ordem
São
originalmente, filhas da Noite (Nix) e concebidas sem pai.
Eram
denominadas Cloto, Láquesis e Átropos, tendo cada uma função específica. Cloto
era a fiandeira, Láquesis a mediadora e Átropos a cortadora.
Dentro
de uma caverna elas teciam o fio da vida de cada homem e nenhum outro deus
poderia interferir em seu trabalho, nem mesmo Zeus ousava se colocar entre
elas.
Portanto,
a Roda da Fortuna representa uma lei misteriosa que atua dentro de cada individuo
que, por sua vez, determina as súbitas mudanças tanto positivas como negativas,
alterando todo o padrão de vida do indivíduo.
Somente
nos damos conta da atuação da Roda da Fortuna por meio dos elementos externos,
que denominamos destino.
Em
uma análise psicológica, essa carta em sua potencialidade como arquétipo, pode
ser associada a uma mandala com um centro fixo.
As
mandalas foram objeto de estudo de Jung, sobre as quais ele diz:
“Como já foi dito, mandala
significa circulo. Há muitas variações do tema aqui representado, mas todas se
baseiam na quadratura do circulo. Seu tema básico é o pressentimento de um
centro da personalidade, por assim dizer um lugar central no interior da alma,
com o qual tudo se relaciona e que ordena todas as coisas, representando ao mesmo
tempo uma fonte de energia.”
A
figura da Roda da fortuna remete, portanto, ao processo de individuação.
Isso
pode ser notado uma vez que, Jung descreve a individuação como um processo de Circumambulação
do Self como o centro da
personalidade.
Conforme
o dicionário crítico Circumambulação:
“Significa não somente um movimento
circular, mas também a marcação de uma área sagrada em torno de um ponto
central. Psicologicamente, Jung a definia como uma concentração em um ponto, e
a ocupação deste, concebido como o centro de um círculo.”
Ainda
mais sobre a circumabulação.
“Circumambulatio
era um termo alquímico também usado para uma concentração no centro ou lugar da
mudança criativa. O círculo definido ou temenos é uma metáfora para a contenção
necessária durante a análise, a fim de se resistir às tensões produzidas pelo
encontro de opostos e evitar uma ruptura e desintegração psicóticas
conseqüentes.”
A
Roda da Fortuna também nos mostra, por meio das duas figuras que sobem e descem
que vivemos no mundo das dualidades, dos opostos.
Para
ilustrar um pouco mais o pensamento da Roda e o processo de individuação, recorro
ao exemplo da roda do Samsara do budismo tibetano.
Samsara
pode ser descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos.
E ela mostra que estamos presos ao mundo das ilusões.
No
Budismo Tibetano, portanto, é a perpétua repetição do nascimento e morte, desde
o passado até o presente e o futuro, através dos seis ilusórios reinos:
Inferno, dos Fantasmas Famintos, dos Animais, Asura ou Demônios Belicosos, Ser
humano, dos Deuses e da Bem-Aventurança. A menos que se adquira a perfeita
sabedoria, ou seja, iluminado, não se poderá escapar desta roda da
transmigração, ou Roda da Samsara. Aqueles que estão livres desta roda de
transmigração são considerados lamas, iluminados (ou budas, em sânscrito).
Este
ciclo de morte e renascimento da Roda do Samsara pode ser descrito, em termos
psicológicos, como morte e renascimento do ego, levando a uma ampliação da consciência.
O iluminado, portanto seria aquele que individuou, ou seja, ele ser já possui
todos os opostos integrados dentro de sua psique, estando em um estado de
transcendência
Portanto,
o ego no processo da Roda da Fortuna deve se render a uma força maior que ele
que é o Self. Ele não pode controlar
o destino. As três Moiras, fiandeiras, estão a tecer a nossa vida e nem mesmo
Zeus ousou desafiá-las.
O
Self é o princípio unificador, a autoridade central e dono do destino humano.
Ele é o centro e a circunferência.
Portanto,
quando chegamos neste estagio da jornada onde encontramos a Roda da Fortuna a
vida vai nos exigir que o Self seja
integrado, reconhecido, realizado. Num processo de relação ego-Self incessante.
Referências
NUNES,
M. F.R.C – Magia do Tarô – Livro da
Autodescoberta. 4 edição Ed Rowena 2001 Rio de Janeiro
SHAMAN-BURKE,
J. & GREENE, L. – O Tarô Mitológico.
27 edição Ed. Arx. São Paulo 2003.
Dicionário Crítico de Análise Junguiana: http://www.rubedo.psc.br/dicjung/aprerubd.htm
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