A busca da sentido
Por: Hellen Reis Mourão
Joseph Campbell
em sua obra O Poder do Mito, afirma que a experiência que o ser humano mais
procura é a de se sentir vivo. Essa seria a base do sentido da vida.
Infelizmente
hoje uma profusão de doenças psíquicas como a depressão - que vem se tornando o
mal do século - ocorre devido a um embotamento do homem em relação a si próprio
e a vida.
A maioria de nós
não sabe qual o sentido de estarmos nessa vida e apenas sobrevive. Trabalha,
come, dorme, passeia, mas por dentro não se sente vivo.
O avanço
tecnológico e intelectual nos trouxe muitos benefícios em termos intelectuais,
de saúde e culturais, entretanto com ele tivemos uma perda substancial de
contato com o inconsciente.
Nossa cultura
ocidental voltada para ”o fazer”, “o acontecer” e para a atitude extrovertida
nos anestesiou e denegriu tudo o que é voltado para o subjetivo, para o
interior. Perdemos a paciência em esperar que as coisas aconteçam no tempo certo.
Observamos essa
atitude ocidental na forma como lidamos com a literatura do “espírito” como a
mitologia e os contos de fadas.
Hoje nos
interessamos mais em nos anestesiarmos com as noticias do dia e os
acontecimentos do momento, deixando assim de valorizar o encontro com algo que
irá falar a nossa alma
Antigamente os
contos eram formas de entretenimento do adulto. Atualmente são vistos como
entretenimento infantil. Conforme Von Franz (2010), isso ocorreu devido a uma
tendência do homem moderno em infantilizar os conteúdos do inconsciente.
Além disso,
atualmente não possuímos uma mitologia sagrada que norteie a consciência. O
mito cristão foi durante muito tempo uma fonte de vida espiritual para o homem,
no entanto, como tudo na vida, hoje ele se tornou um sistema petrificado.
Von Franz (2011)
explica que os símbolos coletivos do Self
se desgastam. As religiões, as convicções e as verdades, tudo envelhece e
precisa ser renovado. Tudo o que dirigiu uma sociedade por determinado tempo é
deficiente, no sentido que envelhece. A consciência humana costuma desinteressar-se
ao longo do tempo.
Por essa razão e
pelo fato de não possuirmos algo que venha substituir esse sistema já
desgastado, o homem ocidental se volta cada vez mais para a busca de uma
anestesia contra a falta de sentido de sua vida.
Vicio de todas
as formas como jogos, bebidas, sexo, computador, fanatismo religioso, trabalho
e até o vício em pensar, são formas de anestesia e também de busca de
transcendência da vida cotidiana.
Entretanto, essa
busca tem sido externa o que a torna efêmera. Vemos nos contos de fadas o tema da
busca do tesouro difícil de encontrar, como uma jóia preciosa, uma fonte de
água da vida ou um animal sagrado, que irá trazer a solução para a situação desgastada
da consciência coletiva.
Esse tesouro é
algo difícil mesmo, pois requer o enfrentamento de forças sombrias da psique,
contudo por mais difícil que seja esse enfrentamento o resultado é mais sólido
e permanente do que a busca efêmera de algo externo. O tesouro é interno e está
no mais profundo de cada individuo.
Hoje vem
acontecendo uma profusão de revisitações e adaptações dos contos de fadas para
o cinema e televisão, trazendo de volta essas histórias ao mundo adulto. O que
vejo de forma bastante positiva, pois eles mostram de forma simbólica a
iniciação do mundo infantil para o adulto; as mortes e as ressurreições simbólicas
necessárias pelas quais precisamos passar.
Isso mostra
também que a consciência coletiva está em busca de algo que está faltando nos
ensinamentos cristãos.
Não temos mais
ritos de passagem, que nos indique o momento das transições da vida, por isso a
psique coletiva de forma compensatória nos traz no entretenimento os caminhos
que indiquem como podemos seguir em nossa jornada rumo a individuação. É uma
pena que hoje ainda seja somente um entretenimento.
A análise é uma
das formas mais beneficia o processo de individuação, contudo existem outros
meios de despertar o sentido de nossa alma e dos símbolos, favorecendo assim a
individuação.
Infelizmente
para nós ocidentais que perdemos o contato com essa literatura do espírito, o
mais indicado para o processo de individuação é a psicoterapia, pois assim é
possível buscar seu mito pessoal e se preencher consigo mesmo.
A água da vida
está no interior de cada um, mas é preciso ter coragem para empreender essa
viagem até o mais recôndito da própria alma e assim conhecer seus desejos mais
profundos.
Toda vez que
alguém se depara com seus desejos mais profundos, surge o medo na mesma
proporção, pois algo de numinoso e transformador vêm daí.
Medo e desejo
caminham juntos, mas o mais importante é saber para qual face da mesma moeda
você vai olhar: para o desejo com a fonte da vida ou o medo com seus aspectos
aprisionantes?
Bibliografia:
CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Palas
Athena, 1990.
VON FRANZ, M. L. O feminino nos contos de fada. Vozes.
São Paulo: 2010.
_________________. O gato – Um conto da redenção feminina 3
ed. Paulus. São Paulo: 2011.
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