Nix - A Noite


Por; Hellen Reis Mourão
Nix é a deusa da noite. Filha do Caos e irmã de Érebo, a escuridão, ela representa o feminino primordial.
Essa deusa representa a noite com seus mistérios e segredos. Patrona das bruxas e feiticeiras, que a cultuavam por acreditarem que ela proporciona fertilidade à terra fazendo brotar ervas encantadas.
Homero se refere a Nix com o epíteto "A domadora dos Homens e dos Deuses", demonstrando como os outros Deuses respeitavam-na e a temiam, pois ela tem total controle sobre vida e morte, tanto dos homens como dos Deuses.
Em uma variante da cosmogonia órfica, Nix põe um ovo, do qual nasce Eros, enquanto Urano e Géia se formam das duas metades da casca partida. Ou seja, da noite e da escuridão, nasce o desejo de união (Eros), o amor.
Da união de Nix com seu irmão Érebo, também nasce: Éter (luz celestial) e Hemera (Dia). Da escuridão é que nasce a luz. Dois opostos Nix e Érebo (trevas e inconsciente) e Éter e Hemera (luz e consciência).

Nota-se que da matéria informe (Caos) - prima mater da alquimia – nasce a escuridão (inconsciente), e das trevas (Nix e Érebo), nasce a luz (consciência).
Conforme Brandão (1986), enquanto Érebo personifica as trevas subterrâneas, inferiores, Nix personifica as trevas superiores, de cima. Ela percorre o céu, coberta por um manto sombrio, sobre um carro puxado por quatro cavalos negros e sempre acompanhada das Queres (espíritos femininos, filhas de Tânato, simbolizam o destino cruel, fatal e impossível de escapar).
Os filhos de Nix são divindades que habitam o mundo subterrâneo e representam forças indomáveis que nenhum outro Deus pode conter. Na versão de Ésquilo, as Erínias (vingança) são filhas de Nix.
Nix (como todos os outros deuses) possui um aspecto benéfico, que é a beleza da noite, a sedução e o mistério; e outro maléfico, que é a maldição e terror noturno.
Simboliza a primeira deusa da morte e é a primeira deusa das Trevas. Sendo então o feminino primordial, o inconsciente com nossas sombras que nos causam tanto terror.
Representa a mãe primordial, o útero devorador, aquele que a consciência patriarcal tanto teme.
Com o advento do Patriarcado e a ascensão de Zeus ao poder, Nix se tornou uma deusa esquecida e renegada ao esquecimento. Mesmo assim, Zeus a temia profundamente, pois ela tem o controle da imortalidade dos deuses, podendo tirá-la e transformar um deus em mortal, como fez com Cronos, após este ser destronado por seu filho Zeus.  
Um poder enorme e absoluto!
Nix, como deusa lunar, simboliza o tempo das gestações, das germinações que vão surgir à luz do dia em manifestações de vida. Junto com Érebo, representa inconsciente primordial, de onde, tudo nasce. Com seu irmão, simboliza o uroboros primordial.
Símbolo da riqueza de todas as potencialidades de existência humana, mas também da destruição da mesma. Não respeitar essa força de germinação e de morte, pode ser perigoso.
Temos um destino e é tarefa árdua para o ego ocidental aceitá-lo.
A noite é o símbolo do indeterminado, daquilo que não enxergamos, ou vemos parcialmente. Nela se misturam pesadelos, íncubos, súcubos e monstros, mas também desejos inconfessos e potencialidades, pois em nossa sombra não se encontra apenas o mal, mas um potencial muito maior do imagina o ego limitado.

BRANDÃO, J. – Mitologia Grega Vol. 1, Petrópolis: Vozes, 1986.


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